A beira do rio São Francisco, às margens do município alagoano Pão de Açúcar, ficou repleta de defensores do Velho Chico, na manhã deste domingo, 2. A ação, organizada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), faz parte da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, em comemoração ao Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, celebrado no dia 3 de junho.
A abertura da mobilização social contou com apresentações culturais de dança, música e teatro, além da recitação de poesias e uma grande regata de canoas e botes. Os discursos e manifestações no local foram fundamentais para que a comunidade e demais visitantes pudessem compreender a importância do evento e se sensibilizar com a causa.
De acordo com o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco, Honey Gama, o objetivo é chamar a atenção da população ribeirinha acerca da necessidade da preservação e uso consciente dos recursos hídricos. “Tivemos a efetiva participação da comunidade nesta manhã. Eles compareceram, assistiram às apresentações e tenho certeza que muitas visões e atitudes foram mudadas”, assegurou o coordenador.
O ambientalista e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Antônio Jackson Borges Lima, que tem uma relação íntima com a cidade, destacou que foi um dos defensores para que Pão de Açúcar fosse a cidade escolhida para sediar a campanha no Baixo São Francisco. “Aqui é onde considero que temos a praia mais bonita de todo o rio São Francisco, a maior orla em termos de praia e uma cidade que tem uma história de cultura e luta, através de muitos representantes envolvidos com a defesa do rio. Colocar uma ação em cada Câmara Consultiva Regional foi uma escolha acertada do Comitê. Acredito que a campanha deixará uma semente em cada cidade, que será multiplicada, para a luta de revitalizar o rio. Afinal, precisamos garanti-lo para as futuras gerações”, ressalta o ambientalista.
Para a realização da campanha, o Comitê contou com diversas parcerias. Entre elas, a Prefeitura Municipal de Pão de Açúcar. O secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Arnaldo Mendes Melo, explica que é necessário dar total apoio a causas como essas devido à atual situação do maior patrimônio do povo ribeirinho. “Conheci o Velho Chico dando tudo à comunidade, hoje vemos que falta cuidado e o rio está morrendo aos poucos. Temos muita preocupação e estamos focados no meio ambiente, buscando reverter esse quadro. Essa campanha incentiva a conscientização do povo e nos ajuda muito nesse trabalho”, afirma o secretário.
Vânia Rezende, servidora pública, é natural de Itabaiana (SE) e começou a trabalhar em Pão de Açúcar em 2006. Ela conta que se apaixonou pela cidade assim que chegou. “Aprendi a amar quando vi essa maravilha. Ando toda manhã na margem do rio e ouço muitas músicas relacionadas ao Velho Chico. Amo mesmo. É justamente por isso que estou sempre participando e colaborando com a conscientização. A população daqui ama e usufrui muito do rio, só que a consciência ambiental ainda precisa ser muito trabalhada e esse evento é de suma importância para isso. Nunca vi uma mobilização como essa aqui em Pão de Açúcar, foi fantástico”, garantiu.
“Navego nesse rio por amor, tanto que sou agricultor, mas tenho uma embarcação. O rio é a nossa vida, principalmente dos ribeirinhos. Sem ele, não temos como sobreviver. O ser humano é muito falho e está estragando o rio. O que mais falta aqui é a conscientização, por isso uma ação como essa é tão importante”, destacou Gilvan Gonçalves, agricultor local. O pão de açucarense não exitou em participar ativamente da regata de canoas, que premiou os cinco primeiros colocados.
Resgatando os costumes de uma época onde não havia água encanada, a apresentação das Lavadeiras do São Francisco, trouxeram ao público lembranças de mulheres que ficavam à beira do rio, lavando roupas e entoando cantigas ribeirinhas. Já a apresentação teatral, emocionou os presentes mostrando a evolução da degradação do rio até a sua possível morte. O diretor da Associação Teatral Opará, Cristiano Pereira, conhecido como Barriga, conta que o objetivo do grupo foi satisfatoriamente alcançado. “Trouxemos a peça Espíritos do Rio São Francisco, mostrando como o rio era, como está e como pode ficar. Queríamos que as pessoas, ao assistirem à peça, sentissem como parte do rio e as suas dores. Hoje, buscamos dizer as pessoas que o rio não aguenta mais tanto sofrimento e conseguimos. Presenciamos muita emoção causada pela empatia”, explica.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Carolina Leite
*Fotos: Edson Oliveira