Quando se fala em degradação do Rio São Francisco, os fatores que causam danos ao Velho Chico são inúmeros, mas todos estão intimamente ligados à ação nociva do ser humano, como despejo de esgoto, produtos químicos, assoreamento, entre tantos outros. O Velho Chico, assim como os demais rios, depende da preservação dos biomas para continuar vivo.
No entanto, a ameaça real a sua existência vem de todas as partes. O bioma Cerrado, onde nascem três das maiores bacias hidrográficas do Brasil [Amazônica/Tocantins, Prata e o São Francisco] vem sofrendo agressões constantes, que colocam em risco toda sua diversidade.
O Cerrado, rico em biodiversidade e potencial aquífero, é o segundo maior bioma do Brasil e da América do Sul. Ocupa também o triste segundo lugar de bioma que mais sofreu alterações com a ocupação humana (o primeiro é a Mata Atlântica), considerando atividades crescentes para incrementar a produção de carne e grãos para exportação, fator que tem gerado um progressivo esgotamento dos recursos naturais da região.
De acordo com Paulo Fiuza, que faz parte da Fundação Mais Cerrado, em torno de 65% do Cerrado passou a ser utilizado como pastagem e mais da metade está abandonado, se transformando em áreas de desertificação. “As pastagens vem sendo um dos grandes destruidores do Cerrado, bioma que é o coração do Brasil e interliga todos os outros. As águas que brotam nele abastecem mais de 80% da população brasileira. Então, porque as pessoas não dão a devida importância?”, questiona.
O Cerrado ocupa cerca de 22% do território brasileiro abrangendo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Abrigando milhares de espécies, a degradação crescente já ameaça inúmeras plantas e animais de extinção. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, estima-se que 20% das espécies nativas e endêmicas já não ocorram em áreas protegidas, e que pelo menos 137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção.
Quanto à capacidade aquífera, os dados também assustam. O professor e pesquisador Altair Sales, referência no Brasil no debate sobre o Cerrado, afirma, desde 1984, que “muitos dos cursos d’água no Cerrado estão secando de forma irreversível”. Atualmente, um estudo desenvolvido pelo doutorando em Ciências Florestais da Universidade de Brasília (UnB), Yuri Botelho Salmona, aponta o desaparecimento de pequenos rios. O estudo está em fase de elaboração e deve ser concluído até o final deste ano.
De acordo com o presidente da Ecodata, organização não-governamental que promove ações de educação ambiental e conscientização, Donizete Tokarski, a manutenção de áreas com vegetação nativa tem reflexo diretamente na manutenção dos ambientes hídricos e dos mananciais. “O Cerrado é de fato o grande fomentador de águas para todo Brasil. A bacia do São Francisco tem mais de 94% da sua vazão originária nesse bioma e as demais bacias são praticamente em torno de 80%; então o Cerrado tem a condição de ser o grande disseminador de águas do Brasil. Entretanto, nós temos muitos rios que já estão secando e os que eram caudalosos e tinham uma vida muito grande em termos de fauna e de piscosidade praticamente não existem mais, em função da série de barramentos que aconteceram. Exemplo disso é o próprio São Francisco. Então, é preciso ter uma leitura mais ampla desse bioma fazendo com que a preservação da vegetação tenha uma associação direta com a produção de água”, afirma.
Ainda segundo Tokarski, os caminhos para se diminuir esse impacto passam pelo combate ao desmatamento. “Além disso, é preciso o acesso a informações permanentes e atualizadas e promover o zoneamento verdadeiro sobre o Cerrado. Temos áreas que não poderiam estar ocupadas de maneira nenhuma; são áreas de altitudes, veredas que são fontes de manutenção da água, principalmente para o rio São Francisco. A gente tem que buscar financiamento para garantir a manutenção dos rios e um Cerrado em pé”, concluiu.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante *Foto: Bianca Aun