“Na margem do São Francisco, nasceu a beleza / E a natureza ela conservou / Jesus abençoou com sua mão divina”. Esse trecho da música ‘Petrolina-Juazeiro’, composta pelo pernambucano Jorge de Altinho, bem que poderia ser atribuída à cidade de Piranhas, localizada no sertão de Alagoas. Margeado pelo rio São Francisco, o município, agraciado pela natureza, tem um forte apelo turístico. Além da história, marcada pelo cangaço – foi em Piranhas que a cabeça de Lampião ficou exposta depois que ele foi morto na Grota do Angico – possui cânions, trilhas para o ecoturismo, cultura, e muitas opções de lazer e turismo.
E para saber um pouco mais da história de Piranhas e do rio São Francisco, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco conversou com Jairo Oliveira, que é turismólogo, professor e pesquisador. Segundo ele, Piranhas a partir de uma pequena vila de pescadores e no século 19 transformou-se em um grande entreposto comercial. “De 1881 a 1964 o município sertanejo se desenvolveu bastante na agricultura, pecuária e transporte, mas logo depois veio a desaceleração. Já em 1987 foi iniciada a construção da hidrelétrica de Xingó e quando finalizou a construção houve o apagão no desenvolvimento da região. Entretanto, em 1997 com o incentivo ao turismo por parte da CHESF a situação melhorou”, disse.
E Piranhas, com toda aquela extensão de rio e cânions, transmite uma energia incrível e tem uma beleza peculiar. Mas é importante ressaltar que além das belezas naturais a cidade é composta por um sítio histórico e paisagístico bem rico que foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2004. Na área de tombamento está o núcleo histórico da cidade, o distrito de Entremontes e um trecho de 13 km do rio São Francisco. O tombamento tem uma justificativa, os seus valores históricos, arquitetônicos e culturais, por ser a região representante da ocupação e conquista do Estado, desde o início do século XVIII, e da integração social e comercial da Região Nordeste.
Rota do Cangaço
O turismo em Piranhas (AL) alavancou em 1997 com a criação da Rota do Cangaço que inclui passeio de barco no rio São Francisco, almoço e o passeio na trilha. Entre 1998 e 2019, o número de turistas que procuram o passeio cresceu de 820 para 39 mil pessoas por ano.
Segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICBio) somente o passeio aos cânions do São Francisco já atraiu mais de 260 mil pessoas, antes da pandemia. “O número de turistas que esteve no município de Piranhas para conhecer os cânions cresceu bastante e com isso passamos a ficar mais atentos à questão do cuidado com o rio São Francisco e sua preservação. O turismo pode e deve ser realizado de forma responsável. A preservação da Caatinga também é importante. É preciso haver conscientização. Se tivermos a percepção de que o rio não é apenas o ‘ganha pão’, mas é vida, seremos ainda mais cuidadosos”, pontuou o turismólogo.
Jairo Oliveira enfatizou que o grande desafio é capacitar as pessoas. “O turismo tem crescido e muito na região, mas precisamos ficar atentos à questão da sustentabilidade, pois se não tivermos cuidado podemos não o ter mais conosco daqui a alguns anos. Nossa intenção é trabalhar com o turismo sustentável, capacitando todos que vivem do rio São Francisco e fazem uso diário dele. Por isso, viro carranca para defender o Velho Chico”.
Trilha de Angico
Situada no município de Canindé do Rio São Francisco, do outro lado do rio, a Trilha de Angico é o destino da Rota do Cangaço que começa com o passeio de catamarã pelo rio São Francisco e tem em seu percurso cânions com a composição da Caatinga, um clima agradável e muitos pássaros. O pesquisador Jairo Oliveira explicou durante o caminho toda a história que envolve aquele local famoso onde Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi morto juntamente com seu bando. “Ao todo 11 cangaceiros morreram no riacho de Angicos, afluente do rio São Francisco, pelas mãos dos policiais volantes que chegaram à Grota de Angico depois de uma denúncia. Os policiais volantes, por volta de 45, acabaram se dividindo à procura do bando e encontraram todos eles. Logo depois da morte, as cabeças de Lampião, Maria Bonita e dos principais integrantes do bando foram arrancadas e levadas por diversas cidades, onde eram expostas como prêmio e forma de intimidação”, contou.
José Carlos, de 53 anos, trabalhou muitos anos da sua vida como pescador, retirando do rio São Francisco seu sustento. Agora que tem uma pequena lancha, realiza passeios com turistas pelas águas do Velho Chico. “Comecei a pescar com nove anos e digo que quando nossos filhos nascem já têm como primeira profissão a de pescador. Hoje trabalho como barqueiro porque não pesco mais, já que infelizmente a quantidade de peixes diminuiu. O rio São Francisco desde cedo me dá muitas alegrias e quero que isso continue para mim, para os meus filhos, netos, e é por isso que viro carranca para defender o Velho Chico”.
Piranhas acolhedora
A cidade que tem belezas naturais e um sítio histórico para deixar qualquer um boquiaberto, também possui pessoas muito acolhedoras. São cidadãos com uma vida pacata, simples e uma enorme simpatia, como é o caso de Willes Fernandes, de 22 anos, que é professor de capoeira e treina com seus alunos às margens do Velho Chico. “Faço um trabalho voluntário com 38 crianças de Piranhas e não tem cenário melhor do que o rio São Francisco para passar a arte da capoeira. Este rio não pode acabar porque precisamos muito dele para nossa sobrevivência”.
Flávio Ferraz é pernambucano e há 10 anos escolheu Piranhas para viver. Ele, que tem uma pousada às margens do rio São Francisco com várias casinhas acolhedoras, galinhas, patos, muito verde e bem no estilo regional, revelou que não quer mais sair da cidade sertaneja. “Vi a força do Velho Chico e resolvi investir aqui. É um lugar onde fico em paz, tenho acesso a uma natureza incrível como o rio, as matas, cânions e tenho a tranquilidade que tanto buscava”, finalizou.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
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Texto: Deisy Nascimento
Fotos: Edson Oliveira