Resultado da iniciativa de pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), 92 espécies e 433 espécimes de peixes nativos do Rio São Francisco já foram catalogados em um acervo que compõe o museu da biota do Rio São Francisco, localizado no município de Paulo Afonso (BA).
O trabalho, que é contínuo, considerando a diversidade da bacia e as mudanças que vem enfrentando ao longo dos anos, tem o objetivo de funcionar como depósito de espécies da ictiofauna do rio São Francisco, ou seja, espaço onde podem ser realizadas pesquisas a respeito da biota. “Existem pesquisas que não são mais possíveis de serem realizadas em alguns reservatórios hidrelétricos do rio São Francisco, pois, existem espécies endêmicas que não se encontram mais no referido ecossistema aquático ou que se tornaram muito raras e que podem ser encontradas no acervo, onde elas são conservadas há 16 anos, além de alguns exemplares mais antigos provenientes de doações recebidas”, explicou o professor Ruy Albuquerque Tenório, um dos responsáveis pelo acervo.
O trabalho cumpre um papel importante, considerando os últimos dados divulgados pelo MapBiomas, identificando que a Bacia do rio São Francisco perdeu entre 1985 e 2020, metade da sua superfície de água natural. Os dados são da iniciativa que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia e monitora as transformações no uso da terra no Brasil.
O rio São Francisco recebe água de 168 afluentes divididos entre as suas margens esquerda e direita. O Velho Chico possui 36 afluentes de portes significativos e os principais deles são os rios Paraopeba, das Velhas, Abaeté, Jequitaí, Paracatu, Urucuia, Verde Grande, Carinhanha, Corrente e Grande. Exceto os dois primeiros rios, todos os outros são da margem esquerda do Velho Chico e a maioria é de Minas Gerais, estado que fornece cerca de 70% da água do rio. Os afluentes são as veias capilares de uma bacia hidrográfica. Eles têm o poder de influenciar na quantidade e na qualidade das águas e quando um rio afluente é poluído, provavelmente levará parte desse prejuízo para o rio principal.
Um dos resultados dessas perdas nas últimas décadas é o desaparecimento também de diversas espécies de peixes, conforme explica o coordenador do acervo. “Muitas espécies não serão mais identificadas porque já entraram em extinção e, consequentemente, ninguém vai encontrar mais para identificar. Por isso, a importância de catalogar as espécies que sobreviveram e dessas, nem todas foram classificadas ou porque foram notificadas erradamente ou porque nunca foram identificadas cientificamente”, acrescentou.
O museu da biota do Rio São Francisco foi pensado no ano de 2002 pelo professor Ruy Albuquerque Tenório e pelo pesquisador José Patrocínio Lopes. No entanto, somente em 2006 a Coleção de Referência do Rio São Francisco começou a ser formada a partir do acervo do projeto Ecologia dos Lagos (ECOLAG) coordenado pelos professores Silvia Helena Lima Schwamborn (UNEB) e pelo William Severi (UFRPE).
“Temos o interesse de trabalhar em conjunto com o Comitê de Bacia para que a gente consiga avançar na questão de profissionalizar a coleção, a ponto de se tornar um museu indexado, possibilitando a todos o conhecimento de algo muito importante de um rio que tem uma identidade. Por isso, é muito importante que a gente consiga universalizar essa coleção a ponto dele se tornar um museu internacional”, concluiu.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante