“Quem aí vira carranca? Pois eu viro carranca para defender o rio sim!”. Essa foi a palavra de ordem durante o último sábado, 03 de junho, data que marca o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico. Nesse dia, moradores da região e do município de Felixlândia (MG) participaram das atividades da campanha “Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico”. Com uma programação repleta de atrações artísticas e musicais, exposições fotográficas, leitura de poemas, barqueata e solenidades, o evento marcou a cidade e reforçou a importância de revitalizar e conservar o Rio São Francisco e as suas comunidades em volta. Com emoção e entonação, autoridades assumiram o dever de defender o Velho Chico e afirmaram, “virar carranca sim!”.
O evento foi realizado na Praça Padre Félix, localizada bem no centro da cidade. Com instalações educativas, banners, fotografias e uma grande estrutura de palco e som, a programação começou cedo, logo às 8h, com distribuição de material da campanha para alunos das escolas municipais e estaduais do município, e em seguida, o hino nacional brasileiro foi executado pela Banda de Música Municipal “Arte e Conquista”.
O prefeito de Felixlândia, Nonô Carvalho, abriu as falas das autoridades e realizou o lançamento do Programa Municipal de Coleta Seletiva da cidade. “Estamos nos sentindo realizados, o município e eu, por receber e lançar ações como essas em Felixlândia”, afirmou.
De acordo com Nonô Carvalho, o “Vire Carranca” deve ser visto não apenas como uma campanha de conscientização, mas como ação de defesa do recurso hídrico. “As pessoas deveriam ter essa consciência, não só da questão econômica, como por exemplo, a exploração dessas águas de maneira sustentável, mas também em relação à segurança hídrica. Só assim, teremos água com qualidade e quantidade para atender necessidades básicas da população e também desenvolver atividades econômicas”. Para ele, a parceria com o CBHSF na promoção do evento foi muito importante para a cidade. Segundo ele, foi uma oportunidade de apresentar para as crianças as questões não só do Velho Chico, como as do meio ambiente em geral, e fazer com que elas se tornem multiplicadores de ideias e vetores de influência para os adultos. “Eles, os jovens, levam isso para casa, para os pais, e também começam a cobrar atitudes”, explicou.
Nas escolas, as crianças já vinham sendo preparadas para este dia, e desenvolveram trabalhos belíssimos, que foram apresentados no evento. A aluna do 5º ano da Escola Municipal “Major Salvo”, Letícia Pereira, apresentou a poesia “A Bacia do Rio São Francisco”, vencedora do concurso de poemas de sua escola. Em seguida, alunas da Escola Municipal Dona Maria Sofia dançaram ritmos típicos da região do Velho Chico e dois alunos repentistas conquistaram o público com poemas ritmados e improvisos.
A diretora da Escola Municipal Nossa Senhora da Piedade, Aldênia Carvalho, explicou que a instituição recebe alunos de 33 comunidades da zona rural e trabalhar o assunto com esses jovens fortalece o sentimento de pertencimento, já que muitos utilizam essas águas para consumo e atividades. “Para além da beleza, esse rio traz o alimento e as irrigações, (…) por isso a importância de se trabalhar o assunto com os alunos”. Angela Maria Nunes, supervisora da escola, contou que os professores também tiveram atividades voltadas para o conhecimento e defesa do rio. De acordo com ela, para que o conhecimento fosse transmitido com clareza, a escola desenvolveu módulos de conteúdos com vídeos, músicas, poesias e debates para que os adultos pudessem trabalhar isso em sala. “Essa iniciativa foi extremamente positiva, (…) e hoje estamos aqui, com todo esse movimento, o ‘Vire Carranca’, conscientes e defendendo o Velho Chico”.
Ainda pela manhã, o grupo Folia de Reis Estrela do Oriente levou a tradição e ritos para o palco do evento e um lanche foi distribuído para todos os alunos presentes, assim como para a comunidade. À noite, teve festa junina, brincadeiras e barraquinhas de comidas e bebidas.
Barqueata
Durante a tarde, há pouco mais de 40 km de Felixlândia, no distrito de São José do Buriti, membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e servidores da prefeitura realizaram uma barqueata pela represa de Três Marias. Com mais de 2.700 metros de extensão, o lago, também conhecido como Mar de Minas, foi concluído em 1961 e tem como principal objetivo a regularização dos cursos do Velho Chico durante períodos de cheias.
Com uma escultura em madeira de um pouco mais de um metro do santo São Francisco, símbolo desse rio, três barcos e mais de 20 pessoas, a barqueata pela represa encantou os presentes e reforçou a necessidade de preservar o rio, suas belezas e também seus simbolismos.
O coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues Neto, refletiu sobre a realização do “Vire Carranca” em Felixlândia. De acordo com ele, os objetivos da campanha foram alcançados. “Tivemos aqui a participação massiva das comunidades ribeirinhas, mas também a participação de políticos, do povo e da sociedade, todos envolvidos para defender o Rio São Francisco”, ressaltou. Para ele, o evento acontece para jogar luz e trazer a atenção para a importância do rio para a vida e para o território das comunidades. “Só assim, com esse entendimento, poderemos deixar um legado de sustentabilidade e de qualidade para as futuras gerações”, afirmou.
Confira mais fotos da Campanha em Felixlândia (MG):
Articulação entre Prefeitura e Comitê foram fundamentais para o sucesso da edição em Felixlândia
Para que a campanha “Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico” acontecesse foi realizado um extenso trabalho de mobilização entre o CBHSF, prefeituras e parceiros. A produtora executiva do projeto, Geovana Jardim, explicou como foi esse processo de articulação. “Após a apresentação e aprovação da campanha em Brasília, começamos a viajar às cidades interessadas e apresentar para as prefeituras, que são as reais realizadoras do ‘Vire Carranca’. E nesse processo, conhecemos os demais parceiros que atuam diretamente na realização, como as secretarias de Educação e a do Meio Ambiente”.
Em relação a Felixlândia, Geovana destacou que a mobilização do prefeito e das secretarias da cidade foram fundamentais para garantir a infraestrutura e, consequentemente, o sucesso da edição. “O prefeito se envolveu bastante, então toda essa logística física como o palco, tenda, iluminação, som e outros, foram de responsabilidade deles. (…) E não podemos esquecer o envolvimento da CCR Alto São Francisco, representado por seu coordenador Altino Rodrigues, que ajudou articular tudo isso também”, afirmou Geovana.
Vire Carranca 2023
A campanha ‘Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico’ e chegou a sua décima edição e tem, como mote ‘Velho Chico: Gentes, Tradições, Vidas’, que, por sua vez, se desdobra em ‘Cuidar dos povos para preservar o rio, preservar o rio para cuidar dos povos’. A campanha visa trazer visibilidade à atual situação dessas comunidades e povos e para a necessidade urgente da revitalização do rio.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: João Alves
*Fotos: João Alves