“Nós temos as mais variadas dimensões de riquezas nesse rio, e é por isso que a gente vira carranca pra defender o rio São Francisco! ”. Com o mote “revitalizar o rio, preservar riquezas”, a campanha “Viro Carranca para defender o Velho Chico”, promovida pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), chegou, nesta última segunda feira (03), à sua décima primeira edição. Com programação simultânea em outras 3 cidades das regiões fisiográficas do rio, este ano, a cidade de São Francisco ficou responsável por receber a programação da campanha na parte alta da bacia. O evento contou a presença maciça da comunidade local, de alunos da rede municipal e estadual e de representantes do poder público.
Boa parte das atividades foi realizada na praça e nas ruas em volta da igreja Matriz São José, localizada às margens do rio que dá nome à cidade, o rio São Francisco. Com instalações educativas, banners, fotografias, estandes com serviços comunitários e uma estrutura de palco e som, a programação começou cedo, logo às 7h da manhã, com uma procissão de canoas e barcos dos ribeirinhos e pescadores locais. Liderada por uma canoa com a imagem do santo São Francisco de Assis, a procissão abriu de forma impactante a programação local.
Após finalizar a procissão às margens da cidade e levar a imagem do santo até a igreja matriz, o coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues, junto com outras autoridades do poder público municipal e federal, abriu as solenidades do evento. “Olha, esse momento de hoje é super especial e não só para a cidade de São Francisco e para as cidades da região, mas também para toda a bacia e para todo esse país que tem nesse rio. Ele é o símbolo da sua integração nacional. E é isso que a gente quer: que cada um de vocês que nos veem, incorporem e virem carranca para defender o Velho Chico”, discursou Altino.
Além disso, o coordenador da CCR Alto enfatizou a necessidade de conservar as riquezas que provêm do rio, sejam elas econômicas ou culturais. “No evento deste ano, o nosso mote principal é revitalizar o rio para preservar as suas riquezas. E quando se fala de riquezas, pensa-se em riquezas de valor econômico. E não, nós temos muito mais do que isso, nós temos as riquezas culturais, nós temos as riquezas ambientais, nós temos riquezas nas mais variadas dimensões para esse rio, para essa bacia. E é por isso que a gente tem que virar a carranca para defender esse rio, e consequentemente, as suas riquezas”, pediu Rodrigues.
O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, esteve presente no evento e discursou sobre a necessidade de unir as várias frentes da sociedade para revitalizar a bacia. “O Comitê instituiu esse dia para que nós pudéssemos nos unir pela causa e defesa do nosso Velho Chico. Então hoje está acontecendo, nas quatro regiões fisiográficas da bacia, uma programação como essa, para a união dos povos, união da sociedade, do poder público e dos usuários da água, em defesa de uma só causa, a do Velho Chico e de seu povo. E este ano nós estamos trazendo a luta pela revitalização do rio São Francisco, que é para a preservação das nossas riquezas, porque se nós não revitalizarmos o nosso Velho Chico, as nossas riquezas serão perdidas”, explicou Maciel.
A programação seguiu com apresentação de dança da Escola Municipal Bom Menino, roda de conversa entre ambientalistas, técnicos da Emater e alunos da Escola Estadual Dr. Tarcísio Generoso, plantio de mudas, apresentações culturais com Reis dos Cacetes, Charles do Saxofone e Boi de Reis, apresentações regionais com Paralelo 16 e Edna Maria. Uma missa campal também foi realizada.
Além disso, diversas ações globais de cunho social e educativo ocorreram no local. Membros do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco orientaram os presentes sobre a preservação da bacia, a COPASA distribui cartilhas sobre economia de água e preservação dos recursos hídricos, a CEMIG distribui lâmpadas econômicas e levou jogos interativos para demonstrar a importância de economizar energia, e a Secretaria Municipal de Saúde de São Francisco vacinou e ministrou oficinas sobre primeiros socorros.
Juntos pelo Rio São Francisco
A necessidade e a urgência pela preservação e revitalização do rio também foram ressaltadas pelo prefeito de São Francisco, Miguel Paulo Souza Filho, e também pelo deputado federal Paulo Guedes.
O prefeito Miguel Paulo já percebeu impactos diretos à população da cidade e ao rio São Francisco. “Somos vítimas de um problema aqui, que é a balsa. Ela tem dificuldade de atravessar, por conta da quantidade de areia que está sendo depositada no leito do rio. Nós tivemos que traçar uma outra rota. Se antes a travessia era feita em torno de 20 ou 30 minutos, ultimamente tem demorado até 3 horas e meia. Então, esse fato mostra para toda a nossa população, que é ribeirinha, do cuidado que todos nós, cidadãos de São Francisco, temos que ter em defesa do nosso rio”.
Já o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar de Defesa do rio São Francisco, Paulo Guedes, comentou sobre o trabalho desenvolvido na Câmara dos Deputados. “Todas as entidades que defendem o Velho Chico estão aqui, isso é de extrema importância, até porque, como presidente da Frente Parlamentar, também estou mobilizando a bancada federal do seis estados banhados pelo rio, para que possamos conseguir mais recursos, e juntos, mobilizar junto o governo federal para chamar a atenção para a causa da preservação. É necessário fazer obras de intervenção, recuperar as nossas nascentes, e revitalizar a bacia. Temos que ir juntos lutar por esse rio vigoroso”, comentou o deputado federal Paulo Guedes.
Lideranças e representantes femininas também levantaram as suas vozes e defenderam o Rio São Francisco e as suas múltiplas riquezas. Natural de São Francisco, integrante do Quilombo Pena Branca e do terreiro de Umbanda e Candomblé, Janete Cardoso, a Makota Janete, se emociona ao falar da importância que o rio São Francisco tem para ela e sua religião. “Para nós, é falar de vida, porque sem o rio, sem água, nós não temos vida, nós não temos existência. A nossa cultura e a nossa religiosidade depende 100% da natureza. Sem esse rio, nós não teríamos onde buscar energia para continuar a nossa vivência. O nosso sagrado é dessas águas, é nessas águas que depositamos as nossas oferendas. Por isso, todos nós devemos e vamos virar carranca, para defender a nossa ancestralidade e o nosso rio São Francisco”, disse Makota.
Carla Duarte é diretora executiva do Projeto Identidade Barranqueira, iniciativa que revitaliza e potencializa ações e ofertas turísticas no rio São Francisco. Duarte comentou como o evento é um marco importante para a preservação do bem que possibilita que muitas famílias tenham renda, as múltiplas riquezas do rio. “Como eu disse, esse rio possui grandes riquezas para a nossa cultura. Tem aí toda a civilização que depende dele, que são os vazanteiros, os ribeirinhos e os barqueiros. Todos eles utilizam o rio como fruto da riqueza para tirar dali o sustento. Por isso essa necessidade de cuidar do nosso Velho Chico”.
A campanha
Desenvolvida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a campanha “Eu viro Carranca para defender o Velho Chico”, tem como intuito dar visibilidade à necessidade de proteção e revitalização do Rio São Francisco. A iniciativa, que já está em sua 11ª edição, contou com programação em quatro municípios cuja importância do rio é central para seu desenvolvimento – São Francisco (MG), Carinhanha (BA), Lagoa Grande (PE) e Delmiro Gouveia (AL).
Com o tema “Velho Chico: Revitalizar o rio, preservar riquezas”, a programação buscou visibilizar as ações realizadas pelo Comitê e chamar a comunidade da bacia e de todo o país para apoiar a luta pela melhoria da qualidade e da quantidade de suas águas.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: João Alves
*Fotos: João Alves; Leo Boi