
No último dia 03, Brasília foi palco, pela primeira vez, das discussões e atividades culturais propostas pela campanha anual de comunicação e mobilização social do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Dezenas de pessoas participaram das atividades
Já no raiar do dia, logo cedo, às 8h30 da manhã desta terça-feira, dia 03 de junho, tido como o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico, o Memorial Darcy Ribeiro, popular ‘Beijódromo’, começava a receber o público que participou das palestras, debates e apresentações culturais que preencheram o dia.
Sob o mote “Vire Carranca: Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração”, a 12ª edição da campanha anual do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) contou, ao todo, com oito palestras e mais três apresentações culturais que enfatizaram a necessidade urgente de revitalização e cuidado com o chamado ‘rio da integração nacional’.
Educação ambiental em foco
Logo na chegada, as crianças de escolas estaduais da região visitaram a exposição fotográfica ‘Olhares do Velho Chico’ e, na sequência, embarcaram no ‘Expresso Ambiental’, ônibus da Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb) que, por meio de uma maquete de seis metros ensina todo o ciclo do tratamento de água. Em seguida, os alunos acompanharam apresentações de educação ambiental da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa).
As atividades perduraram durante todo o dia, e mais de 300 crianças e jovens aproveitaram o belo gramado da área externa do auditório do Memorial Darcy Ribeiro.
Primeiras palavras e temas em voga
Concomitantemente, representantes do povo Kariri Xocó, de Porto Real do Colégio (AL), município localizado na margem esquerda do Velho Chico, abençoaram o evento por meio do Toré, importante ritual de diversos povos originários do nordeste do Brasil.
Formada a mesa, o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, deu início aos trabalhos. “Hoje é um dia de celebrarmos o Velho Chico, em uma só voz! O evento em Brasília centraliza as discussões e pretende chamar atenção do poder público nacional para as questões do Rio São Francisco. Ainda mais considerando este momento em que se desenrolam o Projeto de Lei 2.159/2021 e o corte orçamentário da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)”, destacou em sua fala. “A causa é uma só. Não aceitaremos retrocessos, falamos em nome do povo dessa bacia e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) e contamos com a união de esforços de todos nós, comitês interestaduais e todas as demais vozes, em prol do futuro do SINGREH e da polícia ambiental desse país”, completou.
Valdir Steinke, representante da Reitoria da Universidade de Brasília (UNB), falou do privilégio de receber o CBHSF num dia tão importante para a bacia do Velho Chico e reforçou o apoio da universidade. “Nosso papel é acolher debates como este, encontros relevantes para o país, principalmente quando tratamos de recursos hídricos”. Ainda durante as falas de abertura, Gustavo Carneiro, Superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, falou sobre a importância do Distrito Federal para a bacia. “Muitas vezes, mesmo estando longe da calha, decisões tomadas aqui influenciam diretamente todo o Rio São Francisco, portanto, receber um evento dessa magnitude aqui no estado é muito importante”.
Marcelo Medeiros, superintendente de Gestão da Rede Hidrometeorológica da Agência Nacional de Águas (ANA), compôs a mesa e falou sobre os desafios do contingenciamento orçamentário. “Este contingenciamento nunca havia ocorrido. Só para termos noção, perdemos 40% do orçamento para o monitoramento hidrometeorológico. Esperamos reverter essa situação ainda neste ano. Seguimos em constante vigília neste sentido e contamos também com vocês”.
Fechando as falas da mesa, a secretária-executiva adjunta do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Flávia Franco, representando a ministra Marina Silva, saudou o evento e reforçou a necessidade de articulação em prol da gestão ambiental no Brasil. “O MMA não está aberto a discutir retrocessos, especialmente nesse momento em que nos aproximamos da COP 30. O Ministério do Meio Ambiente se mantém fortemente atento à gestão de recursos hídricos. Não há como falar em gestão ambiental responsável sem considerarmos as águas deste país”.
Encerrando a mesa de abertura, representantes dos 10 Comitês Interestaduais se juntaram no centro do plenário para uma manifestação conjunta contra o corte orçamentário da ANA. Marcus Polignano, vice-presidente do CBHSF, agradeceu, em nome da Diretoria Colegiada do Comitê, à presença dos membros dos Comitês Interestaduais. “Estamos aqui neste dia festivo, mas também de luta e união com os comitês nacionais contra o corte, contra o contingenciamento de recursos da ANA”.
Seguindo os debates
Antes do início dos debates, Elias Silva, membro do CBHSF, declamou um cordel escrito por ele especialmente para o evento e alinhado com o debate contra o corte orçamentário que atinge as ações do CBHSF. “Vamos cortar as ações que degradam nosso rio, só não cortem o orçamento que ajuda nosso rio”.
A primeira mesa de debates teve como tema principal as alterações nos biomas e redução da superfície hídrica na bacia do São Francisco. Maria Eduarda Coelho, representante do MapBiomas apresentou uma plataforma de dados abertos, com mapeamento geoespacial de corpos hídricos nacionais. A colaboradora demonstrou como utilizar e valer-se dos dados disponíveis na plataforma, principalmente no módulo de bacias hidrográficas, até mesmo com o mapeamento de outorgas.
Sandra Andrade, membro da Câmara de Povos e Comunidades Tradicionais (CTCT) do CBHSF, também integrou a mesa, mediada por Ednaldo Campos, coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Médio São Francisco. Sandra falou sobre a importância das comunidades tradicionais para a preservação da bacia do Rio São Francisco e reforçou o compromisso na luta contra os cortes orçamentários. “Nós, quilombolas e membros das demais comunidades tradicionais, estamos juntos com o Comitê nessa missão de reverter o corte orçamentário da ANA e na luta contra o PL da Devastação. Os congressistas devem legislar para o povo e não contra o povo”, enfatizou.
Carlos Mascarenhas, biólogo e pesquisador do Projeto Manuelzão e membro do Centro de Transposição de Peixes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou oportunidades para conservação da biodiversidade da Bacia do Rio São Francisco. Em sua palestra, intitulada “Rios Livres”, o biólogo apresentou a dinâmica migratória e as peculiaridades de peixes da bacia.
Na parte da tarde, Iara Giacomini, diretora de Revitalização de Bacias Hidrográficas do Ministério do Meio Ambiente, abriu os debates apresentando as principais ações da sua pasta em prol da Bacia do São Francisco. “Estamos trabalhando com muito afinco, junto ao CBHSF e à Agência Peixe Vivo, para otimizarmos ao máximo os recursos em prol da revitalização do Rio São Francisco, inclusive por meio da articulação para liberação dos recursos do fundo gestor da Eletrobrás”, pontuou.
Gustavo Macedo, superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, também compôs a mesa e apresentou detalhes do trabalho desenvolvido na agência, principalmente no que se trata do projeto que visa a revitalização de canais rudimentares de irrigação e a construção de reservatórios lonados na Bacia do Rio Preto, afluente do Velho Chico no Distrito Federal, articulado em parceria com o CBHSF.
Altino Rodrigues Neto, coordenador da CCR Alto São Francisco, encerrou a mesa. “É sempre importante falarmos de parcerias, de união, como mostra essa mesa, aqui com a Iara e com o Gustavo, parceiros de longa data. Precisamos pensar as ações de forma política, as decisões são políticas, muito por isso trouxemos o evento para Brasília, próximo do centro político nacional”, afirmou.
Veja as fotos!
Plano Integrado de Recursos Hídricos e vazões
Ainda na parte da tarde, Erik Cavalcanti, especialista em Regulação de Recursos Hídricos e Saneamento Básico da ANA, apresentou detalhes sobre a importância do Plano Integrado de Recursos Hídricos, em prol do funcionamento efetivo do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). O servidor ainda apresentou ações da Agência direcionadas para a bacia hidrográfica do Velho Chico.
Já durante a apresentação da professora Yvonilde Medeiros, titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos (CTPPP), o foco foram as vazões do Velho Chico e sua relação direta com os usos múltiplos da água. Na sequência, Athadeu Ferreira, representante da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), apresentou as ações direcionadas, pela entidade, para a bacia hidrográfica do rio São Francisco.
Espaço de Cultura
Além dos debates, o Grupo Mamulengo Sem Fronteiras e Keijin do Acordeon & Forró Cerrado levaram ao público, na parte da tarde, cultura e arte por meio de apresentações de teatro de bonecos e forró, respectivamente.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Arthur de Viveiros
Fotos: Luis Nova e Cristiano Costa