Quem passa pela orla das cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), ou pela Ponte Presidente Dutra, que as une, já nem se lembra do Rio São Francisco sem a presença dos praticantes de esportes em modalidades aquáticas. As águas que hoje recebem praticantes do kitesurf, caiaque, stand up paddle e mergulho esportivo, já foi, em outros tempos, local procurado apenas por nadadores e para lazer.
Com o aumento da prática das atividades físicas, um importante movimento também se inicia ou se reforça para estas pessoas: o sentimento de preservação. Com tanta gente nas águas do Velho Chico, o clamor por cuidados, principalmente por parte do poder público, fica ainda mais forte. Mas se as ações do poder público não acontecem ou acontecem de forma tímida, eles mesmo colocam a “mão na massa”. É o exemplo do grupo do kitesurf, uma das atividades mais novas em prática, mas que já se organiza em alguns períodos para realizar a limpeza de trechos do rio. Outro grupo que também faz a mesma ação é o pessoal do mergulho. Os exemplos são muitos e tudo isso é gerado pela percepção que eles têm a partir da prática do esporte.
“Nas últimas décadas a prática esportiva tem crescido bastante. Não foi diferente com as atividades aquáticas. Como representante do kitesurf, posso afirmar que o crescimento do esporte foi enérgico e como sempre fui apaixonado pela natureza, procuramos disseminar essa mensagem de respeito e preservação na nossa trajetória dentro do esporte. O Velho Chico é nossa maior riqueza e, desde a fundação do Kite Velho Chico (KVC), sempre incentivamos e realizamos campanhas de limpeza das suas águas e margens, ao menos uma vez no ano”, afirmou o bombeiro militar e instrutor de kitesurf, Mateus Gomes da Silva.
Seja pela iniciativa de pequenos grupos que crescem a cada dia, ou pela iniciativa de grupos organizados especificamente para a promoção de competições esportivas, o Velho Chico está na rota. É assim para a organização do Desafio dos Sertões, evento realizado anualmente com parceria do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. “A escolha pelo Rio São Francisco para estar em nosso roteiro de provas foi a parte mais fácil – remete ao sentimento familiar: crescemos dentro desse rio, incorporamos o sentimento do povo ribeirinho. Trocar as brincadeiras pelas atividades esportivas foi natural. Queríamos que os demais atletas também pudessem vivenciar as aventuras no Velho Chico”, explica o coordenador e idealizador do Desafio dos Sertões, Walter Guerra.
O que fica nítido neste cenário, é que quanto maior a relação do ser humano com as águas do Velho Chico, seja pelo esporte ou por qualquer outra atividade ligada ao rio, maior a chance desta pessoa se tornar um defensor ferrenho dele. Uma relação muito bem-vinda em tempos de poluição e maus tratos. “A mensagem é conscientização, a melhor forma de preservar, porém precisa ser um trabalho constante e principalmente dentro do campo educacional”, aponta o bombeiro militar. E Guerra completa: “ajudar a preservar e exaltar o Rio São Francisco são valores intrínsecos, então, é muito natural. E as pessoas se apaixonam por tudo isso. Voltam, divulgam e passam a adorar e difundir as coisas boas do nosso Rio. Focamos muito na recomposição de mata ciliar e na importância do Velho Chico para sua população”.