Pelo segundo ano consecutivo o município de Abaré – BA realizou atividades dentro do contexto da campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico. A ação, executada de forma espontânea pela cidade, contou com apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, através da distribuição de material educativo e teve a presença do coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar.
O evento aconteceu no último dia 27 de julho na Aldeia Mãe Tuxí, primeira na região do Submédio a receber a ação integralmente voltada à comunidade. Este ano, a campanha com tema “Velho Chico: gentes, tradições, vidas” lançou especial olhar aos povos da bacia com o intuito de valorizá-los e dar visibilidade especialmente às comunidades tradicionais do rio São Francisco como quilombolas, indígenas, comunidades de fundo e fecho de pasto, pescadores artesanais, ribeirinhos, sertanejos, vazanteiros, caatingueiros, geraizeiros, extrativistas, ciganos, povos de terreiros, entre outros.
O secretário de Educação de Abaré, Ailton Barbosa, destacou que o município aderiu ao movimento em defesa do Rio São Francisco e realiza ações regulares no calendário letivo escolar. “Quando tomamos conhecimento desse movimento feito pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, tomamos isso também como nossa responsabilidade, afinal há quanto tempo se fala sobre preservação e cuidado, e na prática pouco se aplica. Abaré tem duas aldeias indígenas, quilombolas, assentamentos, ribeirinhos, vaqueiros, pescadores, ou seja, temos um povo diversificado, cuja sustentação é o Rio São Francisco. Então, desde a educação inicial até o ensino médio temos feito esse trabalho de forma regular, que está presente durante o ano inteiro no calendário letivo de Abaré”, afirmou.
No próximo ano, de acordo com o secretário de Educação, a programação deve acontecer no perímetro irrigado Pedra Branca. “Já escolhemos o local para realizar as atividades no ano que vem e a gente já entende que precisamos trabalhar esse evento em mais datas de forma a gerar o sentimento de responsabilidade e, principalmente, de pertencimento ao Rio São Francisco em escala ainda maior”, concluiu.
Com a presença de crianças e adolescentes da rede pública de ensino, a programação contou com apresentações e palestras por eixos temáticos abordando questões como o uso racional da água, descarte correto do lixo, além dos impactos econômicos e a influência do rio na afirmação identitária e cultural dos povos indígenas. “Foram realizadas apresentações culturais tais como: puxada de rede, grupo de percussionista e a dança dos povos originários, o toré. Além disso, tivemos a exposição de artesanatos e painéis com registros fotográficos das ações didáticas pedagógicas desenvolvidas pelas escolas. O trabalho de prevenção do rio é uma proposta contínua, presente no currículo escolar e vem sendo desenvolvidas ações nos espaços escolares e fora dele, tornando as crianças e adolescentes desde a educação infantil aos anos finais do ensino fundamental, os principais protagonistas das ações em defesa do Velho Chico”, afirmou o coordenador pedagógico da Secretaria de Educação de Abaré, Danilo Dias.
Para as lideranças indígenas, a realização da campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico na aldeia foi uma importante fonte de conhecimento para disseminar a importância de perpetuar a mensagem e, principalmente, as ações concretas de preservação a que as comunidades tradicionais estão habituadas desde sempre. “Foi muito gratificante participar desse momento que aconteceu de forma grandiosa tendo como público-alvo nossos estudantes da escola indígena, crianças que estão adquirindo conhecimento e o que mais nos chamou atenção foi o interesse deles em participar desse diálogo com a comunidade. Eles vão transmitir esse conhecimento aos seus pais, aos mais velhos e fazer com que essas informações perpassem de geração em geração. Porque o rio São Francisco é importante para a cultura do nosso povo, sendo dele nossa fonte de vida. A terra e água fazem parte da nossa existência”, afirmou Alessandro Conceição Santos ou Alessandro Tuxí, como é conhecido.
Para a Elisangela Tuxí, liderança do povo Tuxí, a campanha reforça a importância da água para os povos e comunidades tradicionais. “Nossa comunidade é banhada pelo rio e temos na nossa essência essa relação próxima com a água que é extremamente importante para nossa vida, pois a usamos para lavar, irrigar, criar animais, navegação, para beber. O rio é Opará, é nossa vida e nosso alimento”, completou.
Integração com as Câmaras Técnicas
Residentes na cidade, os membros da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL), Veridiana de Oliveira e da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais (CTCT), Wilson Simonal, participaram das duas edições da campanha em Abaré e ajudam a construir a consciência da importância da ampliação e participação do debate sobre a preservação do rio São Francisco. “É de extrema importância o desenvolvimento do projeto nas escolas, uma vez que o trabalho se torna contínuo. Minha preocupação era que aqui também não se tornasse apenas uma data comemorativa, mas o desenvolvimento de um projeto permanente, e estamos trabalhando com crianças, que são os multiplicadores. Este ano, a Aldeia Tuxí foi a escolhida para apresentarmos nosso projeto. Em uma roda de conversa muito produtiva, vimos a participação das crianças, e elas acolheram e aprenderam o quanto é urgente e necessário o engajamento de todos nessa luta”, destacou Veridiana Oliveira.
“A gente entende que a iniciativa adotada por Abaré de tomar para si a responsabilidade de defender o São Francisco, deve ser o mesmo caminho que os municípios pertencentes à bacia devem também assumir. Estamos incentivando as prefeituras na região do Submédio a realizarem ações importantes como estas para o rio São Francisco. Acredito ainda que essa é uma demanda a ser incentivada, levando essas ações cada vez mais para as comunidades tradicionais, povos que cuidam do nosso rio e por isso, devo levar essa sugestão ao coordenador da CTCT”, afirmou Wilson Simonal, membro da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais.
O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Claúdio Ademar, lembra que nos últimos anos a região tem conseguido disseminar a campanha em defesa do São Francisco, contando com o interesse de cidades diversas. “A CCR Submédio está atingindo o objetivo de difundir a campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico. Este ano, além de Floresta que foi o município sede no Submédio, as cidades de Paulo Afonso, Macururé, Glória, Jeremoabo e Abaré, na Bahia, e Jatobá, em Pernambuco, realizaram ações dentro do contexto da campanha. Elas receberam apoio do CBHSF com a distribuição de materiais educativos, panfletos, camisas, e é isso que queremos dos municípios: a consciência de assumir seu papel ativo na defesa do Rio São Francisco”, concluiu.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Prefeitura de Abaré